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Memórias  de um Povo ilhéu

        1.- A população açoriana preserva, com muito carinho, a sua matriz cultural marcada por uma ruralidade que resiste à forte influência da globalização e da mudança social.

Seria bom se desta dialética constante resultasse uma síntese em que os valores e a cultura tradicionais se conjugam com a evolução e o desenvolvimento. Temo, porém, que as culturas locais sejam ofuscadas pela corrente avassaladora de culturas exteriores que dominam a economia, a indústria, os “media” e a educação. Há, no entanto, razões para acreditar que é possível resistir às investidas desses fenómenos globais que “standartizam” hábitos, modos de pensar e de agir, e pouco ou nada contribuem para afirmar as diferenças individuais e colectivas.
Os cortejos de carros alegóricos que muitas festividades incluem nos seus programas, parecendo iniciativas repetitivas, são um dos processos de afirmação da idiossincrasia de uma localidade e de um povo.
Esses desfiles representam modos de vida, costumes antigos, produções artesanais que caíram em desuso ou foram substituídas pela industrialização de equipamentos agrícolas ou pelo fim de actividades económicas.
Há dias, na Semana dos Baleeiros das Lajes do Pico, um cortejo etnográfico constituído por carros alegóricos das seis freguesias do concelho, revelava o entusiasmo de figurantes e espectadores admirando, de perto, cenas e costumes que o imaginário colectivo julgava desaparecidos na memória dos tempos.

É certo que já não há tanoeiros que façam ou consertem barricas, nem ferreiros que construam arpões e lanças para matar cachalotes; poucas mulheres lavam em pias de pedra e acendem o forno para cozer o pão  de milho e o bolo do forno. Os lavradores, calçando meias, albarcas e camisas de lã feitas em casa, já não vão ao mato ordenhar vacas, montados em burros, nem trazem o leite em canecas de cedro, tapadas com urze. As azenhas ou moinhos de água da freguesia das Ribeiras já não moem nem trigo nem milho e agora a água de invernos abundantes corre para o mar, desaproveitada.
O Mestre/Comendador Francisco Machado (Barbeiro) também já não toma a cana do leme do bote, acompanhado de seis homens, porque as arriadas à baleia foram proibidas há quase trinta anos.
Mantém-se, porém, toda a culinária tradicional, os enchidos de porco: morcela, linguiça, torresmos de vinho de alhos e de gordura, o cozido; o bolo e o pão de milho conhecem cada vez maior procura e o vinho de cheiro do Pico dura muito mais tempo porque é confeccionado com melhores técnicas de fermentação.

E são os sabores que alimentam as memórias e o imaginário dos povos.
Grande papel têm desempenhado as escolas e muitas autarquias. As primeiras, despertando nas crianças e nos jovens o espírito de pertença e o respeito e interesse pela cultura dos seus maiores; as segundas, promovendo e valorizando iniciativas a que os mais velhos aderem, entusiasticamente, e que contribuem para a valorização de saberes e vivências antigos.

        2.- Merece o maior apreço e estímulo a iniciativa do empresário vilafranquense Miguel Cravinho, por ter recuperado o bote baleeiro S.ra de Fátima (SG 98-B), construído nas Capelas em 1945. A sua reconstituição foi feita, em Sta Cruz das Ribeiras – Pico, por mestre João Tavares, após ter sofrido várias vicissitudes: o bote foi serrado para lancha de pesca e balcão de bar, até que Cravinho o descobriu e o reconverteu. Após a sua chegada a Vila Franca do Campo, no próximo dia 6, o Senhora de Fátima navegará à vela ou a remos, proporcionando aos turistas  uma ideia de como se caçavam baleias nos mares de São Miguel e nos Açores.
Está aberto o caminho para a recuperação de outras embarcações baleeiras e para a realização de regatas a remos e à vela com botes de outras ilhas.
A Fábrica de baleia das Capelas,  há que repeti-lo, foi, propositadamente, desmoronada. Todavia, o esbelto bote Senhora de Fátima, (foto tirada do http://150milhasdehistoria.blogspot.com/) vai reavivar memórias de muitos micaelenses que ganharam o sustento de suas famílias na dura e arriscada caça à baleia.

 

 

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